16 de abril de 2008

em dias de dengue

"Eu queria ter vontade de escrever mensagens positivas para a humanidade. Dar lições de superação. Mostrar como sou forte e poderosa diante das adversidades. Mas os meus ossos doem, meus olhos doem, minha cabeça dói, a cobra que tenho tatuada na nuca entrou dentro de mim e me morde por dentro. Lembro de um verso de Dante, "um rato roía eternamente a nuca do poeta não sei quê", acho que era isso. Veja só, estou no inferno e não encontro Dante direito. Eu sei que é um pequeno inferno, este que o vírus me trouxe, comparado com tantas doenças que vejo e já vi. Meu sofrimento é muito pequeno perto dos imensos sofrimentos físicos e mentais que atravesso diariamente pelos corredores dos hospitais que venho frequentando. Eu só tenho um vírus. Nem sei o nome dele. O maldito não se identifica. O vírus talvez seja eu fabricando anti-corpos contra mim mesma, contra a vida pequena que venho levando. Mas todas estas pessoas que vejo sofrer também parecem levar uma vida pequena e parecem suportar com mais força do que eu, o que me faz me sentir ainda mais fraca. Vejo como sou pequena diante da dor dos outros, e como sou tão grande para mim, incapaz de me suportar e de suportar este tempo em conta-gotas, que só existe na primeira hora em que o remédio faz efeito e eu faço planos de mudar de vida – e então começa a descida até chegar a um girassol murcho, lá no fim de mim, que eu preciso hidratar. Que água será esta, meu deus, que este girassol precisa? Já derramei rios e rios e rios, e ele ainda cabisbaixo, definhando no escuro. E meus olhos dóem se acendo a luz."
Christiane Tassis | I'm a vírus - multiprocessador.blogspot.com

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