30 de abril de 2008

palavras mágicas

"Havia um plano, uma saída, uma breve intenção de fuga. Mas ainda estou aqui. Ocupando meu lugar no mundo. Desisti de desistir dos sonhos. O cansaço reinventou-se em ânimo. Das lembranças no varal, me apeguei às dos jogos infantis. E os sonhos parecem sair do coma. Eles até acenam enquanto durmo. Enquanto penso que durmo. É dificil enfrentar o mundo mas é mais dificil ainda enfrentar a si mesmo. Então quase desisti e cedi espaço à parte de mim que quer desistir. Mas ainda estou aqui. Ocupando meu lugar no mundo. A outra parte foi valente. Aquela que outrora entrou num avião e mudou o curso de uma vida. É, o cansaço reinventou-se em estímulo. Das lembranças no varal, me apeguei às das guerras que venci. E os sonhos parecem sair da UTI. Eles até sussurram enquanto esqueço. Enquanto penso que esqueço. Então havia um plano, uma saída, uma breve intenção de fuga. No entanto: planos mudam."
Maíra Viana | O Teatro Mágico

28 de abril de 2008

de ontem em diante

De ontem em diante serei o que sou no instante agora
Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa
Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada
são coisas distintas
Separadas pelo canto de um galo velho
Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho
Do versículo e da profecia
Quem surgiu primeiro? o antes, o outrora, a noite ou o dia?
Minha vida inteira é meu dia inteiro
Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro!
Minha mochila de lanches?
É minha marmita requentada em banho Maria!
Minha mamadeira de leite em pó
É cerveja gelada na padaria
Meu banho no tanque?
É lavar carro com mangueira
E se antes, bem antes, um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira
E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras, das besteiras e das besteiras que fizemos ontem
De ontem em diante | Teatro Mágico

24 de abril de 2008

n.103

"Feliz de quem transparece os sentimentos e não anda opaco por aí"
Meu para meus magníficos colegas de trabalho

23 de abril de 2008

once



lindas trilha, história, lágrimas...

16 de abril de 2008

n.102

"As reticências são os pontos finais dos gagos de espírito...
As exclamações são os gritos dos mudos de coragem!!!
O excesso de vírgulas, bem, digamos, é a insegurança em gotas tortas, acho, suponho, talvez."
Rosana Hermann | queridoleitor.zip.net

em dias de dengue

"Eu queria ter vontade de escrever mensagens positivas para a humanidade. Dar lições de superação. Mostrar como sou forte e poderosa diante das adversidades. Mas os meus ossos doem, meus olhos doem, minha cabeça dói, a cobra que tenho tatuada na nuca entrou dentro de mim e me morde por dentro. Lembro de um verso de Dante, "um rato roía eternamente a nuca do poeta não sei quê", acho que era isso. Veja só, estou no inferno e não encontro Dante direito. Eu sei que é um pequeno inferno, este que o vírus me trouxe, comparado com tantas doenças que vejo e já vi. Meu sofrimento é muito pequeno perto dos imensos sofrimentos físicos e mentais que atravesso diariamente pelos corredores dos hospitais que venho frequentando. Eu só tenho um vírus. Nem sei o nome dele. O maldito não se identifica. O vírus talvez seja eu fabricando anti-corpos contra mim mesma, contra a vida pequena que venho levando. Mas todas estas pessoas que vejo sofrer também parecem levar uma vida pequena e parecem suportar com mais força do que eu, o que me faz me sentir ainda mais fraca. Vejo como sou pequena diante da dor dos outros, e como sou tão grande para mim, incapaz de me suportar e de suportar este tempo em conta-gotas, que só existe na primeira hora em que o remédio faz efeito e eu faço planos de mudar de vida – e então começa a descida até chegar a um girassol murcho, lá no fim de mim, que eu preciso hidratar. Que água será esta, meu deus, que este girassol precisa? Já derramei rios e rios e rios, e ele ainda cabisbaixo, definhando no escuro. E meus olhos dóem se acendo a luz."
Christiane Tassis | I'm a vírus - multiprocessador.blogspot.com

n.101

"É no coração do homem que reside o princípio e o fim de todas as coisas"
Tolstoi

normose

Entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, sobre uma palavra inventada por ele que é muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal.

Todo mundo quer se encaixar num padrão.
Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se "normaliza", quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo.

A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.
A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?

Eles não existem.
Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.

A normose não é brincadeira.
Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar? Freqüentar terapeuta para bater papo?
Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias.
Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo.
Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.

Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.

Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada.

Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.

15 de abril de 2008

soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com os olhos que contem o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual à mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...
Vinícius de Moraes

(ao amigo-irmão Markin)

11 de abril de 2008

dia cinza

"O universo é uma harmonia de contrários"
Pitágoras

9 de abril de 2008

como dizia o poeta

"Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não"
Vinícius de Moraes

abro um sorriso

"O sonho é um prestidigitador hábil, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa as pessoas, e se elas estão juntas, reúne-as..."
José Saramago | O Conto da Ilha Desconhecida

8 de abril de 2008

erros

"Nós geralmente descobrimos o que fazer percebendo aquilo que não devemos fazer. E provavelmente aquele que nunca cometeu um erro nunca fez uma descoberta"
Samuel Smiles

6 de abril de 2008

n.100

"Sofrer e chorar significa viver"
Dostoievski

5 de abril de 2008

até a última ponta

"É melhor queimar do que apagar aos poucos."
Kurt Cobain

n.99

"Não tenho medo das tempestades, pois estou aprendendo a manobrar meu barco"
Louisa May Alcott

2 de abril de 2008

sentença

"A vida me condena
- Serás pássaro somente em bico de pena!"
Flávio Mota

1 de abril de 2008

n.98

"O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica"
Norman Vincent Peale

n.97

"A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer"
Mário Quintana

dia da mentira

"Engolimos de uma vez a mentira que nos anula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga"
Denis Diderot